O mediador do encontro foi o professor Humberto Barbosa, especialista em desertificação.



Foi realizado na manhã desta terça-feira (14) no auditório da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Feira de Santana, um seminário para discutir a ‘problemática sobre a desertificação de territórios’.

O convidado para mediar o encontro, foi o professor Humberto Barbosa, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), especialista em desertificação.

Em entrevista o prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins, destacou a importância do assunto ser debatido no município, principalmente pelas tragédias climáticas que atingem o estado do Rio Grande do Sul, assim como a seca na região Nordeste.



“Humberto Barbosa é professor lá da Universidade de Alagoas, uma pessoa que tem pós-graduação em Arizona nos Estados Unidos, é uma pessoa da área de meteorologia e do clima, e nós aqui em Feira de Santana, quando a gente estudou geografia, Feira de Santana era do semiárido, Feira de Santana pertence ao semiárido. A Bahia tem cerca de 300 municípios no semiárido, somente nessa parte, estamos evoluindo para o desértico e em vários desses municípios nós estamos evoluindo para o deserto, e Feira de Santana está nesse limite”, disse.

Colbert Martis salientou a respeito da importância de melhor convivência com as mudanças climáticas.

“Nós estamos aqui próximo do recôncavo porque é uma região mais úmida e do outro lado uma região mais seca, e o que ele vem falar hoje, é o que está acontecendo no Rio Grande do Sul agora, e o que está acontecendo no Nordeste, uma coisa que demorava para acontecer, quantas vezes nós vivemos a seca aqui em Feira de Santana, mas depois da seca vinha a chuva? E agora nós estamos fazendo tudo ao mesmo tempo, pode ter seca no Rio Grande do Sul e podem ter inundações na Bahia. Tivemos uma grande chuva aqui no dia 26 de janeiro, uma grande chuva em 18 de fevereiro e a tendência é termos chuvas mais fortes ainda neste ano, tanto no Nordeste, quanto seca no Sul, portanto ele vem nos ensinar como a gente conviver no mundo climaticamente tão diferente”, declarou.



De acordo com o prefeito, o município pode enfrentar fortes chuvas no segundo semestre deste ano.

“Essas mudanças climáticas já afetaram o Rio Grande do Sul na redução das colheitas, estão permitindo um aumento inclusive no valor de alimentos, tipo o arroz, não é somente a morte de mais de 140 pessoas, é a perda de casas, é a perda dos eletrodomésticos, é a perda do emprego, é a perda da capacidade de trabalhar, de empresas que estão neste momento sem funcionar, então o impacto climático é tão forte que afeta a vida das pessoas como um todo, no seu trabalho afeta a vida na sua produção e afeta mais ainda o equilíbrio entre as situações. O El Niño que é o que nós estamos tendo agora, chuvas fortes no sul vai mudar para o La Niña, esse La Niña, às vezes demorava um ano para acontecer de uma distância para outra, mas agora está saindo de um e começando o outro, então ele vai mostrar aí que a previsão de chuva no nordeste é intensa novamente neste ano, portanto nós temos que nos preparar porque o que aconteceu de inundação em janeiro, pode acontecer novamente agora no segundo semestre”, afirmou.

Em entrevista o secretário de Agricultura, Recursos Hídricos e Desenvolvimento Rural, Alexandre Monteiro também comentou sobre a presença do especialista em Feira de Santana.



“O que nos levou a trazer o professor Humberto Barbosa é simplesmente que ele é o maior especialista em desertificação do Brasil, esse estudo que ele desenvolve, estudo pioneiro aqui no Brasil, mostra diversas áreas de desertificação nos estados brasileiros, inclusive no estado da Bahia. Então o que é que a gente pode ajudar? A Secretaria de Agricultura do município trouxe o professor com o objetivo de divulgar essas questões porque a gente trazendo e disseminando o conhecimento, a gente pode buscar recursos e tentar medidas de mitigação dessas ações futuras, então a gente preocupado com a questão da desertificação, com a questão do clima extremo, chuva demais ou secas demais, a gente busca talvez o maior especialista do Brasil nesta área para juntos buscarmos soluções para estas questões aqui em Feira de Santana”, pontuou.

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A desertificação é um processo que vem acontecendo de forma lenta, mas que causa graves consequências às pessoas que vivem nestas regiões e dependem do cultivo da agricultura.

De acordo com o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens e Satélites (Lapis), ligado à Universidade Federal de Alagoas, cerca de 13% do semiárido brasileiro já foi atingido por este processo, que torna a terra improdutiva por conta dos longos períodos de seca.



Em 2021, o professor apresentou a situação no programa Profissão Repórter, da rede Globo. Na época, a equipe de reportagem percorreu mais de 2 mil quilômetros e passou pelos estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas para mostrar as dificuldades de pessoas que vivem em áreas diretamente impactadas pela seca.

Em entrevista, o professor Humberto Barbosa explicou como funciona o processo de desertificação.



“O que é que provoca? O desmatamento, a agricultura intensiva, os incêndios, o sobrepastoreio que é a criação de animais em pequenas áreas, não há nenhum problema com a criação de caprinos e bovinos, é o manejo para que ele não compacte esse solo. Por exemplo, eu tenho três gatinhos, se eu deixar duas semanas em uma área pequena, você precisa ver o estrago que esses dois gatinhos fazem na grama, então é o manejo desses animais e essa erosão provocada por estes processos. Eu tiro a pele, que é a vegetação, eu coloco muita sobrecarga neste solo e isso provoca a erosão, vai se tornando mais frágil, vai perdendo a fertilidade e daí você vai tendo uso excessivo da água como também a ausência dela, você vê como é complicado o excesso ou a ausência de água, também é um processo da desertificação”, explicou.

Segundo o professor, este é um problema que já acontece desde a década de 70.

“O clima nos últimos 30 anos tem colocado uma pressão nestas regiões principalmente na região semiárida e árida brasileira, principalmente a região Nordeste do Brasil. Ela tem sofrido com esse climas mais quentes e isso faz com que estas áreas se expandam e os estragos como a Bahia, Piauí, a Paraíba, Pernambuco, que são os estados pioneiros, porque desde o passado, desde 71, já haviam registros de núcleos, áreas de desertificação espalhadas pelo Nordeste, só que estas áreas aumentaram assim como o clima do sertão, está mais árido, está mais seco, está mais quente”, concluiu.

Portal Regional Notícias, com informações e fotos do repórter Ney Silva do Acorda Cidade